PASSAGEM no FITS Festivalul Internațional de Teatru de la Sibiu (RO) / PASSAGE at FITS Festivalul Internațional de Teatru de la Sibiu (RO)

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Regressamos do FITS de Sibiu na Roménia, de coração carregado de emoções e memórias que guardaremos com bastante carinho, orgulhosos de poder fazer parte de tão bela celebração.

Foram quatro as apresentações realizadas no histórico Astra Parc, nos dias 22 e 23 de Junho, elegendo-se numa feliz coincidência, o espaço em frente ao Hospital Pediátrico de Sibiu que permitiu às crianças internadas de assistirem, enchendo as suas janelas, não deixando os quatro velhos viajantes indiferentes a estes pequenos grandes espectadores, saudando-os em todas as suas viagens do PASSAGEM.

À implementação deste projeto juntou-se uma incrível equipa de jovens voluntários, Ada, Sabina, Eduard, Viktor e Radu, à qual agradecemos toda a sua dedicação e empenho, e igualmente por nos darem a conhecer os cantos e encantos de Sibiu.

Um profundo agradecimento vai de igual forma a Dan Bartha e toda a incansável organização de FITS pelo convite e acolhimento, e a todo imenso público que nos acompanhou, às suas palavras e carinho que deixaram a toda a equipa e ao PASSAGEM.

Fica abaixo a partilha da bela introspecção sobre o PASSAGEM na Revista Aplauze, por Doriana Tăut.  

La revedere Sibiu, Mulţumesc!

"O Parque Astra acolheu ao longo do tempo alguns das mais espetaculares performances do FITS. Talvez devido ao mistério que envolve o espaço carregado de história, talvez devido às grandes janelas que escondem por trás de si a riqueza de uma biblioteca com mais de um século, ou talvez devido às árvores imponentes que inspiram sacralidade e respeito, este parque tornou-se nos últimos anos um espaço onde nos sentimos seguros. Aqui se reúnem, domingo após domingo, idosos sábios que jogam xadrez, discutem política e rememoram memórias, cercados por netos curiosos e travessos. É por esse costume enraizado na vida da cidade, que a proposta artística dos intérpretes portugueses PIA Projectos de Intervenção Artistica foi integrada tão naturalmente no percurso de passeio dos sonhadores de todas as idades.

Inicialmente, fomos surpreendidos pela paleta de cores escolhida: o branco forte das histórias não escritas, o branco puro de um início de vida, o branco encantador de todas as coisas que podem ser. As árvores que se tornaram brancas pareciam agora ainda mais sábias, e a chuva de fios ordenadamente dispostos em seus galhos escondia um espaço que se tornava íntimo, onde se desejava entrar, mas era impedido pela sua limpeza e simplicidade. Nesse branco provocador e solitário, qualquer cor que fosse adicionada poderia ganhar vida. Os artistas, no entanto, escolheram a cor vermelha para pintar quatro histórias de vidas há muito vividas, com esperanças há muito perdidas e com quatro fragmentos de sonhos que se tornaram agora a única realidade.

A cenografia, pensada até o menor detalhe por Pedro Leal, já é um espetáculo em si que atrai curiosos ao longo do dia, mas, quando a noite cai e a maravilhosa instalação ganha contornos de luz, só então a magia das cores se torna viva. O espetáculo Passagem traz à tona quatro personagens visualmente inspirados na commedia dell'arte, com máscaras que escondem, parece, uma vida erudita e enigmática, com uma postura que nos lembra Pantalone, mas com uma atitude digna, serena e composta. Em planos de ação simultâneos, aparecem quatro idosos curvados pelos anos, elevados sobre pernas de pau que tremem a cada passo, controlados exemplarmente pelos acrobatas-atores que conseguiram transmitir a fragilidade e a insegurança dos passos na velhice por meio de uma técnica impecável. As quatro personagens parecem solitárias, perdidas em símbolos que lembram suas vidas passadas: sapatos de mulher que nos fazem pensar em um amor perdido, relógios ajustados obsessivamente para garantir que o tempo não pare para ninguém, molduras vazias que poderiam estar repletas de fotos de família e, por fim, novelos de lã que se tornarão cachecóis, camisolas e mantas quentes para os queridos enregelados que talvez cruzem a soleira de um deles.

Olhamos melancolicamente para uma história que parece ser triste, para uma história que talvez vivamos também, ou talvez já conhecemos de nossos avós ou pais. Uma história colorida de maneira menos ordenada na vida real, mas que parece uma sentença inevitável. Só quando a resignação quase se instala, somos surpreendidos pelo espírito amante da vida do povo português: aquela "alegria" (alegria) que coroa o que os portugueses chamam de "saudade" – um sentimento profundo de saudade e melancolia que culmina com a vontade de viver. Porque sim, como os dinamarqueses destacaram em estudos no Instituto de Pesquisa sobre a Felicidade, a felicidade é alcançada tendo uma vida social plena. Será que os povos solares já não sabiam disso há muito tempo? As quatro personagens saem da zona de conforto, encontram-se na rua, dançam, se apaixonam, brincam como crianças de 15 anos e nos dão esperança e coragem a todos.

Talvez tenhamos medo até de pensar nos anos da velhice, talvez alguns de nós nos convencemos de que não vamos alcançá-los, talvez os vícios e o prazer prevaleçam nas nossas escolhas, sem consideração por um futuro saudável e digno, mas a performance Passagem aborda com cores um tema tabu na nossa sociedade. Reimagina um espaço familiar para nós, utilizando objetos reciclados que, através da arte, recebem uma nova vida e são impregnados de história por meio de personagens carregados de humor, sabedoria e honra. Olhamos, assim, no espelho da natureza, um possível cenário para um futuro que tememos, mas ao qual aspiramos em segredo.

Poder abordar temas universais, sem palavras, textos escritos ou explicações desnecessárias, ter a coragem de se aventurar nos medos mais sombrios dos espectadores aparentemente herméticos, mas ainda assim tão fáceis de ler, representa uma intrusão para a qual é necessário muito tato e maestria. Os artistas da PIA Projectos de Intervenção Artistica mostraram ser, no entanto, conhecedores finos do psiquismo humano e conseguiram desencadear um exercício de admiração por aquilo que é, para nós, um mistério envolto em previsões sombrias: a velhice com suas vulnerabilidades, solidão e tristeza."

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We returned from FITS in Sibiu, Romania, with hearts full of emotions and memories that we will cherish dearly, proud to be part of such a beautiful celebration.

There were four performances held in the historic Astra Park, on the 22nd and 23rd of June, and in a happy coincidence, the space in front of the Sibiu Pediatric Hospital was chosen, allowing the hospitalized children to watch from their windows. The four old travelers could not remain indifferent to these little BIG spectators, greeting them during every journey of PASSAGE.

An incredible team of young volunteers, Ada, Sabina, Eduard, Viktor, and Radu, joined the implementation of this project, and we thank them for all their dedication and commitment, as well as for showing us the corners and charms of Sibiu.

A profound thank you also goes to Dan Bartha and the tireless FITS organization for the invitation and hospitality, and to the immense audience who followed us, for their words and affection that they left to all PIA's team and PASSAGE.

Bellow we leave the beautiful introspection about PASSAGE in Aplauze Magazine, by Doriana Tăut. 

La revedere Sibiu, Mulţumesc!

"Over time, Astra Park has hosted some of the most spectacular performances at FITS. Perhaps it's due to the mystery that envelops the historically rich space, or the large windows that hide behind them the wealth of a library over a century old, or maybe it's the tall trees that inspire a sense of sacredness and respect. In recent years, this park has become a place where you feel safe. Here, Sunday after Sunday, wise elders gather to play chess, discuss politics, and reminisce, surrounded by curious and lively grandchildren. It is precisely because of this custom deeply rooted in the city's life that the artistic proposal of the Portuguese performers from PIA Projectos de Intervenção Artistica was so naturally integrated into the promenade of dreamers of all ages.

Initially, we were surprised by the chosen color scheme: the strong white of unwritten stories, the pure white of a new beginning, the enchanting white of all things that can be. The trees, turned white, now seemed even wiser, and the orderly drizzle of threads from their branches concealed an intimate space you longed to enter, but were held back by its cleanliness and simplicity. On this provocative and solitary white, any color you might add could come to life. However, the artists chose the color red to depict four stories from long-lived lives, with long-lost hopes and four fragments of dreams that have now become the only reality.

The scenography, thought out to the smallest detail by Pedro Leal, is already a spectacle in itself, attracting curious onlookers throughout the day. However, when evening falls and the wonderful installation takes shape in light, only then does the magic of the colors come to life. The show "Passage or Journey Through Memories" brings to the forefront four characters visually drawn from commedia dell'arte, with masks that seem to hide an erudite and enigmatic life, with a posture reminiscent of Pantalone, yet with a dignified, composed, and calm attitude. In simultaneous action plans, four elderly figures, bent with age, appear elevated to the audience on stilts that tremble with every step, masterfully controlled by acrobat-actors who managed to convey the fragility and uncertainty of steps in old age with impeccable technique. The four characters seem lonely, lost in symbols that remind them of their past lives: women's shoes that make us think of a lost love, obsessively set clocks to ensure that time stops for no one, empty frames that could have been filled with family pictures, and lastly, balls of yarn that will become scarves, sweaters, and warm blankets for the dear frozen ones who may cross one of their thresholds.

We look melancholically at a story that seems to be sad, a story that perhaps we will also live, or maybe we already know it from our grandparents or parents. A story colored less orderly in real life, but which seems an inescapable sentence. Just when resignation almost sets in, we are surprised by the life-loving spirit of the Portuguese people: that "alegria" (joy) which crowns what the Portuguese call "saudade" – a profound feeling of longing and melancholy culminating in the zest for life. Because yes, as the Danes have highlighted in studies at the Happiness Research Institute, happiness is achieved through a fulfilling social life. Haven't the sunny peoples known this for a long time? The four characters step out of their comfort zones, meet in the street, dance, fall in love, play like 15-year-old children, and give us all hope and courage.

Maybe we are afraid even to think about the years of old age, maybe some of us have convinced ourselves that we will not reach them, maybe vices and pleasure prevail in our choices, without consideration for a healthy and dignified future, but the performance "Journey Through Memories" tackles a taboo theme of our society in colors. It re-imagines a space familiar to us, using recycled objects that, through art, receive a new life and are infused with story through characters filled with humor, wisdom, and honor. We thus look in the mirror of nature, at a possible scenario for a future we fear, but secretly aspire to.

To be able to touch on universal themes without words, written texts, or unnecessary explanations, to have the courage to venture into the darkest fears of seemingly hermetic spectators, yet so easy to read, represents an intrusion that requires much tact and mastery. The artists from PIA Projectos de Intervenção Artistica proved to be, however, fine connoisseurs of the human psyche and managed to trigger an exercise of admiration for what is, for us, a mystery shrouded in grim predictions: old age with its vulnerabilities, loneliness, and sadness."

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Produção/Production: PIA Projectos de Intervenção Artística, CRL 

Autoria, Direcção Artística e Concepção Plástica/Author, Artistic Direction and Plastic Conception: Pedro Leal 

Direcção de Produção e Audiovisuais/Production Direction and Audiovisual: Helena Oliveira 

Figurinos/Costumes: Maria João Domingues, Olinda Cordas, Filomena Godinho 

Instalação e Caracterização Especial (Máscaras)/Installation and Masks: Pedro Leal 

Desenho de Luz e Operação/Light Draw and Operation: João Nunes 

Sonoplastia/Sound Design: Álvaro Presumido 

Assistência/Assistance: Pedro Vicente

Criação e Interpretação/Creation and Interpretation: Helena Oliveira, Mafalda Cabral, Ricardo Mondim, Sylvain Peker, Tiago Augusto 

Agradecimentos/Special thanks to... Joaquim Batista Dias, Miguel Cabral, Ricardo Brás, Paulo Morais (Video), Luís Fernandes (Video), Luís Amarelo (Interpretação), Filipe Couto (Video), Rui Rodrigues, Paulo Vargues (Técnica), João Lopes (Técnica) Associação de Reformados e Pensionistas de Pinhal Novo, Vidreira Pinhal Novo, Vidreira Moderna da Moita